*Conteúdo escrito por humano
O conceito de Moda Aristocrática tem origem no próprio
surgimento da moda no Renascimento, um período de transição da Idade Média para
a Idade Moderna, quando houve um impulso do capitalismo e o nascimento da
burguesia, uma nova classe social que enriqueceu com a atividade comercial mas
não aceitava a superioridade da aristocracia.
Os burgueses passaram a expressar a sua força política,
econômica e social por meio de suas vestimentas e acessórios luxuosos,
obrigando a aristocracia a reagir de maneira semelhante ou seja, mostrar sua
superioridade através das vestimentas também luxuosas. O início da moda,
portanto, está vinculado às elites, à burguesia e à aristocracia. A imensa
maioria da população não era afetada por esta transformação.
A moda surge como o resultado da necessidade da diferenciação das classes superiores e da necessidade de imitação das classes inferiores, em um movimento constante e cíclico.
Frédéric Godart
França: centro da moda
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Luis
XIV e família: atribuído à Nicolas de Largillière Via | https://tinyurl.com/8a6mxv4m |
A França assume o protagonismo da moda no reinado de Luis
XIV (1643 – 1715), tornando Versalhes e Paris os centros políticos, culturais e
econômicos da Europa. Era o período da Monarquia Absoluta ou Absolutismo e cria
uma centralização sem precedentes nas tendências das indumentárias europeias.
Antes, os estilos vinham pelo domínio e influencia política
de outras nações, fazendo com que cada época apresentasse na roupa, detalhes característicos
do país. A Espanha, Países Baixos e Inglaterra disputaram a atenção dos
aristocratas e burgueses até que a França se tornasse uma grande potência.
Bonecas Pandora e a difusão das tendências
Antes da invenção das lojas no final do séc. XVIII e dos
desfiles de moda no séc. XIX, os estilos e modelos parisienses eram divulgados
com a ajuda das bonecas Pandora que difundiam as versões em miniaturas das
últimas tendências. Estes pequenos manequins usando trajes detalhados e
meticulosamente construídos eram feitos para os alfaiates copiarem os modelos e
mostravam as sedas estampadas, os bordados e os elaborados penteados em uso.
Essas bonecas circulavam pela Europa desde o século XVII,
alcançando o auge da popularidade no século XVIII. Eram confeccionadas por
costureiras francesas que criavam os vestidos com requinte de perfeição nos detalhes
e em seguida eram enviadas para a Inglaterra, Alemanha, Itália e Espanha
difundindo o estilo francês.
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Bonecas Pandora Via | https://tinyurl.com/3dpw66ym |
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Boneca Pandora Via | https://tinyurl.com/4u5ckdua |
A maioria das bonecas Pandora era feita de madeira, com suas cabeças e corpos de madeira articulada, enquanto outras tinham membros de cera ou linho. Seus rostos eram pintados e as bonecas mais caras tinham olhos de vidro. Algumas tinham cabelos pintados ou perucas realistas feitas de linho ou lã. Divulgar penteados novos e detalhados era tão importante quanto exibir roupas novas.
Rose Bertin, costureira da rainha Maria Antonieta,
enviou bonecas Pandora de madeira para a Áustria para mostrar a moda francesa à
família da rainha que era austríaca. Em sua boutique parisiense "Le Grand
Mogul", Bertin exibia em suas grandes vitrines as Pandoras em tamanho real
da rainha atraindo compradores e consolidando a imagem de Maria Antonieta como
a maior referência de moda da Europa.
Além de exposição de estilos de moda, as bonecas em
tamanho real serviam também para um propósito prático. Roupas feitas para uma
boneca em tamanho real podiam ser vestidas pela costureira e ajudar a com o
processo dos ajustes. As Pandoras em tamanho real eram a versão dos manequins
de loja atuais.
A difusão de tendências através das imagens de moda
Apesar da
popularidade e da relevância social e política das bonecas Pandora, elas caíram
em desuso nas últimas décadas do século XVIII. As imagens da moda já
eram fontes de referência dos novos estilos desde a metade do século XVII durante
o reinado do Rei Sol, Luís XIV da França (1643 – 1715), cuja corte, como já
vimos, foi o berço da indústria da moda moderna.
Essas
ilustrações em papel eram desenhadas, depois gravadas em madeira, impressas e
coloridas à mão, vendidas aos ricos por assinatura em séries de conjuntos
chamados “cahiers” – cadernos- e serviam de inspiração para costureiros e
“marchandes de mode” - estilistas que vendiam fitas, enfeites e outros adornos
usados para transformar roupas velhas em novas, atualizando com as últimas tendências.
As revistas de moda como meio de difusão de tendências
Nesta
época surgiram também as primeiras revistas de moda como "Le Mercure
Galant" (lançadas em 1678) disseminando o estilo da corte para a classe média, por possuírem preços
acessíveis, melhor qualidade de impressão. Tornam-se populares rapidamente e as
costureiras já não precisariam esperar por longo tempo para conhecer as
novidades da corte, ou através das Pandoras ou dos "Chaiers", ambos
de custo elevado.
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"Chaiers du Mode" Via | https://tinyurl.com/2fzsjwdb |
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"Le Mercure Galant Via | https://tinyurl.com/5xaybw9m |
O fim do período da moda aristocrática
Quando o
costureiro inglês Charles Frederick Worth inaugurou a primeira casa de
estilismo em Paris em 1858, abriu o caminho para uma nova forma de criar e
lançar moda. Se até então a elite da sociedade aristocrática mandava fazer suas
roupas em costureiras particulares ou alfaiates, que eram meros executores das
roupas, respeitando as ordens das clientes, agora, a criação dos modelos foi
transferida para os costureiros diretamente em seus ateliers. Eles se
transformaram nos grandes lançadores de moda, com criações próprias.
Nasce daí
a Federação dos Alfaiates Parisienses em 1868, surgindo assim o conceito de
Alta Costura e os primeiros desfiles de moda. Bom, mas isto já é assunto para
novos posts. É só aguardar que vem aí.
Mas fica a
pergunta: se as cortes não queriam ser imitadas, por que divulgavam as
tendências? A resposta é simples.
Por
interesses econômicos! Quando Luis XIV inicia o processo de divulgação dos
estilos para serem copiados, ele desejava monopolizar a França como lançadora
de moda, e com isto o crescimento da indústria têxtil e de demais produtos para
a moda, que se tornaram as maiores fontes de renda do país.
A política
centralizadora da França estava sob o comando de Jean-Baptiste Colbert
(1619-1683), inspetor das finanças entre 1665 e até sua morte. Ele declarava
que "a moda é para a França o que as minas de ouro do Peru são para a
Espanha." Está explicado!
O efeito Trickle-Down
Como vimos
até aqui, durante este período as tendências de moda eram difundidas das
classes superiores para as classes inferiores. Este sistema tem o nome de
efeito trickle-down ou desaguamento e ainda hoje podemos perceber como ele se
dá.
As
principais semanas de moda – Paris, Londres, Milão, Nova York- possuem
calendários fixos, onde duas vezes por ano lançam as coleções Primavera-Verão e
Outono-Inverno, seis meses antes da estação. São amplamente divulgadas pela
mídia e as marcas de menor porte já podem conhecer o que será moda. E produzem
coleções com preços mais acessíveis que alcançam classes de poder aquisitivo
menor e vai alcançando as demais classes e as marcas de preços populares. Este
é o efeito trickle-down.
https://musingsmmst.blogspot.com/2021/02/slow-fashion-pandora-dolls-and-history.html