*Conteúdo escrito por humano
Quem foi Amélia Bloomer?
Nascida em 27 de maio de 1818, em Homer, Nova
York, Amelia Jenks Bloomer só recebeu alguns anos de educação formal na escola
do distrito onde morava, mas mesmo assim, se tornou professora aos 17 anos
ensinando o pouco que sabia aos alunos em sua comunidade.
Em meados de 1840, ela se casou com David Bloomer,
editor de um jornal e se mudou para a comunidade de Seneca Falls e através do
marido começou a se interessar por assuntos públicos. Com a sua atuação na
Igreja e na Sociedade Local da Temperança, -grupos que defendiam a proibição do
consumo de álcool- ele percebeu que ela tinha uma inclinação para debater sobre
reforma social e não hesitou em encoraja-la a escrever artigos para jornais
sobre diversos temas.
Isto ocorreu depois que ela compareceu na
histórica Convenção de Seneca Falls, organizada por Elizabeth Cady Stanton e
Lucretia Mott em 1848, onde ativistas de grande relevância no cenário das
sufragistas – defensoras do voto - discutiram os direitos das mulheres nos
Estados Unidos.
Em janeiro do ano seguinte Bloomer lançou um jornal
voltado para o público feminino, provavelmente o primeiro a ser editado inteiramente
por uma mulher. "The Lily" se destinava a falar sobre a desigualdade
de gênero, encorajando o aumento do acesso das mulheres à educação formal e o
direito ao voto. O jornal seria um porta-voz da Sociedade de Temperança
Feminina local e defensor da Literatura Moral e Religiosa, publicando também artigos
das defensoras dos direitos das mulheres. Ela começou a viajar para várias
cidades levando seus ideais proferindo palestras e estimulando as mulheres a
lutarem por seus direitos, se tornando conhecida em várias partes do país.
O início da revolução no vestuário
Em meados do século XIX, nos Estados Unidos, todos
concordavam que as roupas femininas representavam um problema. Os vestidos longos,
com saias rodadas e uma cintura fina faziam as mulheres americanas de classe
média e alta se espremerem em espartilhos feitos com barbatana de baleias, com
e seis a oito anáguas para preencher o formato de suas saias, resultando em um
peso de até 7 quilos, provocando dificuldade para se movimentar, tropeçando em
escadas e levando nas barras das saias lixo das ruas.
Em 1851,um editor do jornal Seneca County Courier,
opositor do movimento pelo direito ao voto feminino e à Convenção de 1948, teve
uma ideia: talvez as mulheres pudessem evitar o desconforto e os perigos de suas
vestimentas usando calças turcas e uma saia um pouco abaixo do joelho. Amelia
Bloomer reagiu usando seu jornal para repreender gentilmente o editor do jornal
por apoiar a reforma do vestuário, mas não os direitos das mulheres, que era
sua bandeira de luta.
Mas no inverno de 1850-1851, a vizinha de Bloomer,
a sufragista Elizabeth Cady Stanton, recebeu a visita de sua prima, Elizabeth
Smith Miller, conhecida como Libby Miller, filha do famoso reformador Gerrit
Smith, usando um traje exatamente como a roupa que Bloomer acabara de discutir
na imprensa: calças chamadas de "calças turcas" ou
"pantalonas", combinando com saias na altura do joelho.
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Elizabeth Smith Miller |
Stanton ficou impressionada com a liberdade de movimento da prima, que caminhava com facilidade com as mãos livres e prontamente fez uma roupa semelhante para si mesma. Bloomer não ficou muito atrás, sentindo que era seu dever fazer o mesmo, pois havia se envolvido na questão da vestimenta feminina debatendo sobre o assunto com o Seneca County Courier. Então decidiu adotar e defender o uso do traje.
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Elizabeth Cady Stanton |
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Amelia Bloomer |
Amelia Bloomer defende o novo traje no seu jornal
Na edição de maio do The Lily, Amélia Bloomer escreveu:
"A vocês donas de casa, dizemos: desabotoem seus vestidos e deixem todas as suas roupas caírem frouxamente sobre o corpo. Em seguida, respirem fundo, encham os pulmões de ar o máximo que puderem e, nesse mesmo instante, abotoem suas roupas. Depois, cortem as saias esvoaçantes até os joelhos e vistam calças largas abotoadas nos tornozelos."
Amelia Bloomer começou a publicar várias
ilustrações com modelos do traje, que repercutiram em vários jornais do país.
Batizaram o novo traje como "Traje Bloomer". Mas o interesse dos jornais
não era o apoio a reforma do vestuário e sim, porque o novo traje inspirava caricaturas. Centenas de charges e artigos
apareceram parodiando e ridicularizando o vestido e isso criava uma brecha para
criticar o movimento pelos direitos das mulheres
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Modelos de trajes Bloomer |
Mas depois que Bloomer incluiu uma foto sua com o vestido no The Lily , centenas de cartas chegaram ao seu escritório. Ela escreveu:
“Assim que souberam que eu estava usando o novo vestido, centenas de cartas chegaram até mim, de mulheres de todo o país, perguntando sobre o vestido e pedindo moldes, mostrando como as mulheres estavam prontas e ansiosas para se livrar do fardo das saias longas e pesadas”.
Com isso a circulação do The Lily aumentou de 500 exemplares por mês para 4.000 e o novo vestido, se tornou conhecido como "Traje Bloomer" apesar de ela sempre protestar que não era a criadora do estilo.
As reações negativas sobre o "Traje Bloomer"
Mas não demorou muito para que a maré da opinião
pública mudasse de comentários perplexos para comentários mordazes. A ativista
Angelina Grimke (1805-1879) expressou sua irritação com o nível de
desaprovação, escrevendo: "Se o traje Bloomer tivesse vindo de uma
chapeleira parisiense, teria sido bem recebido em Boston, Nova York e
Filadélfia, mas como é o único vestido que já foi adotado com um princípio, por
um desejo da mulher de se preparar para seus afazeres diários e como é o
resultado de um estado de espírito que está acima da ideia predominante dos vestuários
usados pela mulher, ele choca o
gosto."
Grimke resumiu bem: o vestido foi pensado como
solução e não como embelezamento, deixando claro que a mulher não deveria se
vestir apenas pensando no resultado estético e sim, se vestir para ter conforto
nas suas tarefas diárias.
Quando uma convenção feminista foi realizada em
Londres, Amelia Bloomer e suas seguidoras compareceram vestidas com tais trajes
provocando reações de chacota e inúmeras caricaturas inspiradas nelas.
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Caricatura de mulheres usando Traje Bloomer |
Novos usos das calças "Bloomer"
Apesar das sátiras e charges publicadas criticarem
o “Traje Bloomer ”, as calças turcas ou "bloomer" foram aceitas como
uma opção confortável e prática para ser usada como parte do traje esportivo.
Trajes para atividades como ciclismo, banho de mar e exercício físico começaram
a aparecer em propostas de moda na segunda metade do século XIX, inclusive em
revistas de moda.
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Traje Bloomer - Prática de atividades físicas |
O traje Bloomer ou a defesa dos direitos da mulher?
Por vários anos, as ativistas dos direitos das
mulheres suportaram a censura pública pela liberdade de movimento proporcionada
pelo novo traje. Elizabeth Stanton declarou que se sentia "como uma cativa
libertada de sua bola e corrente", enquanto Bloomer elogiava a leveza e o
conforto do traje.
Mas, à medida que a pressão continuava de todos os
lados, as sufragistas gradualmente retornaram ao estilo antigo, agora mais leve
pela invenção da crinolina, um tecido envolto por arame fino para criar o
efeito sino que antes só era possível com camadas de anáguas. E elas tinham
razão.
Amelia Bloomer se mudou do interior do estado de
Nova York para Ohio em 1853 e depois para Iowa em 1855, quando vendeu o jornal.
Por alguns anos continuou usando o traje, mas eventualmente usava as saias
longas. Dizia que a questão do vestido estava encobrindo o que considerava mais
importante: o direito da mulher a uma melhor educação, a um campo mais amplo de
emprego, a uma melhor remuneração por seu trabalho e ao voto para a proteção de
seus direitos. Amélia Bloomer continuou sua luta pelo que defendia até sua
morte em 1894 aos 76 anos em Iwoa.
Uma estátua em Seneca é o símbolo da importância de Amelia Bloomer para as mulheres.
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Estátua com Amelia Bloomer em Seneca usando trajes Bloomer |
E assim, de uma declaração de defesa dos direitos
das mulheres nasceu um estilo que até hoje inspira grandes criadores de marcas.
O bloomer pode ser visto hoje na altura dos tornozelos, curtos, ou em tamanho
médio. Assim, nascem as modas e os estilos de forma espontânea encontrando
adeptos permanecendo ao longo do tempo.
As calças Bloomer - Chloé Primavera-Verão 2025
E por hoje é isso. Esperamos que tenha gostado do nosso conteúdo.
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CRÉDITOS - FONTES E IMAGENS
https://www.britannica.com/biography/Amelia-Bloomer
https://socialwelfare.library.vcu.edu/woman-suffrage/bloomer-amelia/
https://www.tag-walk.com/en/collection/woman/chloe/spring-summer-2025?city=paris
https://www.saturdayeveningpost.com/sep-keyword/elizabeth-cady-stanton/
https://b-womeninamericanhistory19.blogspot.com/2019/05/fighting-for-equality-bloomers-amelia.html