*conteúdo escrito por humano
Quem foi Jeanne Paquin
Jeanne Marie Charlotte Beckers nasceu em Saint-Denis, na
França, em 23 de Junho de 1869. Nesse período o país vivia uma época de
mudanças sociais com as primeiras lutas das classes operárias, mas a burguesia
podia desfrutar da sua fortuna nas luxuosas lojas de departamentos como o Le
Bon Marchè e La Samariteine, inauguradas em Paris ou frequentando as casas de
Alta Costura.
A Alta-Costura era considerada um dos negócios mais rentáveis da época, mas era uma profissão exercida quase exclusivamente por homens e as mulheres só poderiam ser costureiras, ou assumir a direção do atelier. Jeanne tinha se formado como costureira no Boulevard Haussman e deu os primeiros passos na carreira trabalhando na Rouff, (uma casa de alta costura parisiense fundada em 1884), onde mais tarde se tornou chefe do atelier.
Início da carreira de estilista
Em seguida começou a trabalhar na Paquin Lalanne et Cie, uma
grife de alta-costura masculina, onde conheceu Isidore-René Jacob, conhecido
como Paquin, com quem se casou em janeiro de 1891. Juntos, abriram uma casa de
moda – Maison Paquin- na mesma década no número 3 da Rue de la Paix, ao
lado da famosa Maison de Charles F. Worth. Jeanne era responsável pela criação
dos modelos podendo liberar toda sua criatividade, enquanto Isidore, cuidava da
administração do negócio.
No início da Maison Paquin, Jeanne criava peças em tons pastéis, inspirados no século XVIII, adornados com incrustações de pele ou renda que rapidamente lhe deram grande notoriedade. Às vezes introduzia o preto e o vermelho em suas coleções de alta-costura sendo considerada uma atitude ousada, pois, na época, o preto era usado apenas durante o luto. Jeanne conseguiu tornar o preto elegante combinando-o com forros de cores vibrantes e detalhes bordados.
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Vestido Jeanne Paquin -1896 Via | https://tinyurl.com/yt6dnzw5 |
A conquista da alta sociedade
Com olhar apurado também para promoção da Maison, Paquin
enviava suas manequins vestidas com seus modelos para grandes eventos em Paris,
como hipódromo, Ópera, eventos de caridade a fim de conquistar mulheres da alta
sociedade e transforma-las em futuras clientes. Como parte desta estratégia de
promoção, organizava desfiles apresentando suas criações.
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Modelo Maison Paquin -1910 Via | https://tinyurl.com/3y3wtne2 |
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Modelo Maison Paquin - 1910 Via | https://tinyurl.com/3y3wtne2 |
Assim, o glamour e a elegância dos seus vestidos conquistaram algumas das mulheres mais poderosas da Europa. As rainhas de Espanha, Portugal e Bélgica eram clientes assíduas além das atrizes famosas como as estrelas da Belle Époque, Liane de Pougy e La Belle Otero. Ela também criou peças de roupa para esposas de magnatas americanos como os Astors, Ballantines, Rockfellers, Vanderbilts e Wannamakers.
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Vestido Jeanne Paquin criado para a atriz La Belle Otero. Via | https://tinyurl.com/3jwwpwbk |
Casamento Vanderbilt-Fair no New York Herald Tribune (edição europeia) em 1899.
Via|
Em 1896, a Maison Paquin expandiu os negócios abrindo um showroom
em Londres com o apoio financeiro de alguns investidores britânicos que
confiavam em seus negócios. Neste local trabalhava uma mulher cujo nome ficaria
mais tarde na história da moda: Madeleine Vionet. Este showroom se tornou a
sede da Maison Paquin, embora ela não tenha fechado a boutique parisiense.
Exposição Universal em Paris - 1900
Com seu nome já conhecido, Paquin participou da quinta
Exposição Universal em Paris inaugurada em14 de abril de 1900. Esta Feira
celebrou as conquistas do século anterior e recebeu 50 milhões de visitantes
entre abril e novembro.
O portão de entrada da Feira Mundial foi projetado pelo arquiteto
francês René Binet e ficava na Place de la Concorde. A porta de Binet como era
chamada, possuía uma estrutura composta por uma cúpula apoiada em três arcos e
toda a estrutura era adornada com cristais que refletiam a luz do sol durante o
dia e brilhavam com luz elétrica durante a noite.
No topo da cúpula de Binet, erguia-se uma escultura de gesso de uma mulher de 4,5 metros de altura, chamada La Parisienne criada pelo escultor Paul Moreau-Vauthier. O vestido usado por La Parisienne foi desenhado por Jeanne Paquin.
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Entrada da Exposição Universal, Paris 1900. Via | https://digital.sandiego.edu/parisexpo_postcards/12/ |
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Vestido La Parisienne -1900. Via | https://tinyurl.com/yk7cnupx |
Inspiração na História
Paquin gostava de se inspirar em figuras importantes e
costumava batizar seus modelos com nomes como "Vigée-Lebrun" criado
para a coleção de primavera de 1899, referindo-se à famosa pintora Elisabeth
Vigée Lebrun do século XVIII, amiga pessoal e retratista de Maria Antonieta. O
vestido faz referência ao autorretrato da pintora e tem um estilo entre o
Rococó e o Neoclássico. Deste último estilo ela incorporou muitos elementos em
seus designs suntuosos na virada do século, com mangas curtas, cintura
acentuada e saia justa. O nome de Vigée-Lebrun aparece novamente na coleção de
Paquin de 1900.
Na imagem abaixo um vestido de baile da coleção Verão 1901, do acervo do MET Museum, doado pelo Sr. Cornelius Vanderbilt e da Sra Robert L. Stevens em 1953.
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Vestido de baile Paquin Primavera- Verão 1901. Via | https://tinyurl.com/ms4ejdf4 |
O antigo estilo greco-romano e a cultura asiática
também inspiravam Jeanne. Entre alguns de seus designs inovadores, está o
vestido com corte império, criado por ela em 1905, exatamente um ano antes de
Poiret se destacar com este design. Um belíssimo vestido de Paquin
inspirado na cultura grega criado para a coleção Inverno de 1905, pertence ao
acervo do Museu Metropolitano de Nova York doado pela Sra. Doação de Sarah G.
Gardiner em 1941. A imagem está protegida por direitos autorais e o download não
é permitido. Cliqueaqui e
acesse a página do MET e veja a riqueza dos detalhes desta peça.
Esboços da Coleção Verão 1901
Um grupo de 58 esboços de vestidos foi encadernado em um volume intitulado Été 1901 (Verão de 1901). A maioria é desenhado à lápis, com um pouco de tinta e aquarela, alguns com nomes, detalhes e amostras de tecido anexados. Alguns estão nas imagens abaixo, outros podem ser encontrados acessando a página do V&A Museum.
Carreira Internacional
Em 1907 às vésperas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) a casa Paquin empregava 2.700 pessoas mas Jeanne sofreu um grande abalo quando seu marido Isidore, adoeceu e morreu aos 45 anos de idade, deixando a estilista com 38 anos que passa assim, a administrar a empresa sozinha.
Após receber em 1910 a ordem de Leopoldo II da Bélgica, depois de participar de uma Exposição na cidade de Ghent, ela prossegue com o objetivo de tornar seu nome conhecido internacionalmente participando da Feira Mundial em Turim, Itália em 1911.
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Exposição Turim 1911. Princesa Leticia acompanhada de Mme. Paquin Via | https://tinyurl.com/yt6dnzw5 |
Um ano depois, em 1912, Jeanne juntou-se ao meio-irmão e abriu um negócio de venda de peles (um "pelrier"), chamado "Paquin-Joire", na 5ª Avenida nº 398, em Nova York em seguida, inaugurou outra loja em Buenos Aires. Assinou ainda um contrato exclusivo de ilustração com a "La Gazette du Bon Ton", onde também trabalharam Paul Poiret e a House of Worth.
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Vestido Paquin - Gazette du Bon Ton Via | https://tinyurl.com/yt6dnzw5 |
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"Legião de Honra" - França 1913 Via | https://tinyurl.com/yt6dnzw5 |
Nesse mesmo ano, criou o vestido Tango, uma das suas peças mais memoráveis, composto por uma túnica e uma saia dupla com strass e pregas, elemento recorrente nas suas criações e fendas na frente para facilitar os movimentos da dança.
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Vestido Tango. Ilustração de George Barbier - Gazette du Bon Ton Via | https://www.wikiart.org/pt/george-barbier/jeanne-paquin-gown-1914 |
A expansão da marca Paquin segue em 1914, com a abertura da loja em Madrid consolidando o status de marca internacional, algo que não existia naqueles anos. O seu poder era de tal ordem que, entre 1917 e 1919, foi nomeada presidente da Câmara de Comércio da Alta-Costura, a associação que regulava os estilistas franceses.
Mulheres da alta sociedade tinham seus guarda-roupas repletos de todo tipo de vestido adequado para cada ocasião. Era comum que trocassem de dois ou três vestidos durante o dia: um para a manhã, um para o chá da tarde e um vestido diferente para usar à noite.
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Vestido Paquin - Tarde Via | https://tinyurl.com/3y3wtne2 |
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Vestido Paquin - Noite Via | https://tinyurl.com/3y3wtne2 |
Jeanne Paquin criou uma coleção de roupas para o dia que também podiam ser usadas à noite. Muitos de seus vestidos tinham drapeados, que facilitavam os movimentos da mulher ativa. As saias de seus ternos eram cortadas para facilitar o caminhar. Ela também se tornou famosa por sua coleção de lingerie e peles. Jeanne Paquin também fabricava chapéus sofisticados. Ela foi uma das primeiras designers a aplicar asas de pássaro inteiras em seus chapéus extravagantes bem no estilo da Belle Époque.
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Ternos Jeanne Paquin-1909 Via | https://tinyurl.com/3y3wtne2 |
Apoio às artes
Jeanne Paquin também se dedicou às artes, apoiando
principalmente a carreira de alguns artistas por meio da criação do prêmio
Isidore Paquin, um incentivo aos jovens estilistas, mas também por meio de
encomendas a desconhecidos, criando oportunidades de reconhecimento. Foi assim
com o arquiteto Robert Mallet-Stevens, ainda um jovem desconhecido projetou o
estande de Paquin na exposição de Ghent na Bélgica.
Outro artista que se tornou conhecido através de encomendas é Gervex, que pintou a obra "Paquin às cinco horas" retratando o provador da loja. Ela também trabalhou com Léon Bakst , figurinista do Ballet Russo, para quem fez vestidos.
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"Paquin às 5 Horas"- Henri Gevrex - 1906 Via | https://tinyurl.com/k4aaa4su |
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Figurino Ballet Russo por Paquin Via | https://tinyurl.com/hnaer8zf |
Jeanne Paquin também participou de inúmeras ações sociais como arrecadação de fundos para a Cité Universitaire, assistência na gestão de hospitais e doação de ambulâncias, luta contra o alcoolismo e desenvolvimento da educação popular acessível para todos.
O legado de Jeanne Paquin
Jeanne aposentou-se em 1920 e passou a "Maison"
para Madeleine Wallis, sua assistente na época. Em 1931 casou-se novamente com
um diplomata e senador, mantendo-se próxima dos círculos políticos. Madeleine
permaneceu como designer da Maison até 1936, mesmo ano da morte de Jeanne
Paquin quando uma espanhola assumiu o cargo de designer da empresa: Ana de
Pombo conhecida por sua versatilidade, cuja história, assim como a
de Jeanne Paquin, é tão desconhecida quanto fascinante.
A casa Paquin fechou definitivamente em 1956, após 65 anos
de criação. Figura-chave da moda na virada do século XX, Jeanne Paquin, por
meio sua habilidade de unir design e negócios, influenciou toda uma geração de
empreendedoras e designers de moda, como Jeanne Lanvin, Jenny Sacerdote e Coco
Chanel. O fechamento da casa Paquin marcou o fim de uma era dominada pela Alta
Costura que viu nascer o Prê-à-Porter e a moda acessível que chegava às ruas.
Paquin criava moda baseada
em suas próprias necessidades, criando roupas não apenas para serem usadas à
noite, mas peças confortáveis e multifuncionais para mulheres que já não viviam
uma vida voltada para compromissos sociais e familiares, mas já trabalhavam e
precisavam de roupas leves e práticas. Por isso é frequentemente descrita como
a antecessora de Chanel, que também criava moda voltada para este perfil de
clientela.
Apesar de sua enorme
contribuição à moda da Belle Époque, Paquin não é lembrada como deveria. Antes
de Paul Poiret revolucionar a moda para libertar as mulheres da opressão do
espartilho, Paquin apresentou um vestido sem espartilho, embora a história da
moda tenha ignorado esta inovação sempre creditando a ele o pioneirismo do fim
dos espartilhos.
Várias exposições retrospectivas são realizadas mostrando a arte de seus contemporâneos como Paul Poiret e Charles Frederick Worth, porém Paquin e suas conquistas pessoais que abriram caminho para a divulgação da moda francesa no cenário mundial da época, tem sido muito negligenciada na história da alta-costura francesa.
https://marketeer.sapo.pt/sabe-quem-foi-a-rainha-da-alta-costura-do-seculo-xx/
https://artherstory.net/jeanne-paquins-belle-epoque-parisienne/
https://gallica.bnf.fr/accueil/fr/html/jeanne-paquin-premiere-reine-de-la-haute-couture-francaise
. https://cadernodemoda.blogspot.com/2016/09/jeanne-paquin.html?m=1
RETRATO CAPA –