Quando pesquisamos sobre a origem da moda, sempre encontramos como marco inicial o final da Idade Média e início da Idade Moderna, no Renascimento. Encontramos ainda que foram os burgueses os precursores do sistema de criação-cópia-desuso característico da moda. Mas quem eram os burgueses e por que a origem da moda está ligada a esta classe? Leia até o fim e veja como tudo começou. Vale a pena.
Idade Média e as grandes transformações sociais
A Idade Média compreende um período que vai do
século V até o século XV caracterizado pela decadência do Império Romano, as
invasões dos povos bárbaros, formação de novos reinos e o Império Bizantino.
No período que vai do século IX até fins do século
XIII estabelece-se o regime feudal e a hierarquização social. Estes dois
períodos são conhecidos como Alta Idade Média.
Os séculos XIV e século XV é a época do
renascimento do comércio e das cidades, da formação da burguesia e a
consolidação das monarquias. É a chamada Baixa Idade Média.
Este é o panorama geral da Idade Média. Como o
nosso objetivo é entender a origem da moda, vamos resumir o período da Alta
Idade Média, traçando um breve resumo do que foi o feudalismo, dada a
importância que tem para a origem do sistema da moda.
O feudalismo e a hierarquia social
Desde que se desintegrou o Império Romano no
Ocidente (Século V), a Europa Ocidental se organizou em reinos governados por
dinastias locais. Era o fim da monarquia centralizada, cuja base era a
autoridade máxima exercida pelo rei. Essas transformações políticas modificaram
não só a economia, como também a estrutura da sociedade que agora se organiza
nos feudos, iniciando um sistema de governo que se estenderia por muitos
séculos adiante: o Feudalismo.
O feudo era uma grande propriedade rural - cujas
terram eram cedidas pelo rei - que abrigava o castelo fortificado, as aldeias,
as terras para cultivo, os pastos e os bosques. No feudalismo o poder se
concentra nas mãos dos senhores feudais, que comandavam os soldados, cobravam
impostos e administravam a justiça, ou seja, eram soberanos em suas terras.
Era uma forma de governo baseada na posse da terra,
onde todos se submetiam a um suserano, o senhor feudal. Este
podia ceder parte do seu feudo à outra pessoa que se tornaria seu vassalo,
formando uma espécie de cadeia hierárquica.
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Classes sociais no feudalismo. Via | https://pixabay.com/photos/renaissance-painting-6961985/
- Nobres
- Clero
- Servis
1 Nobreza
No topo da nobreza estava o rei, que concentrava
pouco poder político, pois este poder era dividido entre ele e os senhores
feudais. No entanto, o monarca tinha a soberania junto aos senhores feudais, já
que as terras eram cedidas pelo rei.
2. Clero
A Igreja se tornou a mais poderosa instituição
feudal, pois foi proprietária de vastas extensões de terra, além de influenciar
diretamente nas relações sociais. Os mosteiros medievais foram responsáveis
pela conservação de manuscritos sobre literatura, filosofia e ciência, apoiavam
os viajantes e acolhiam os doentes.
3. Servos
O trabalho estava fundamentado na servidão, com os
camponeses presos a terra e subordinados a uma série de obrigações, como
impostos e serviços. Por outro lado, os senhores feudais deveriam protegê-los
em caso de ataques às aldeias que se organizavam em torno dos castelos.
Quase não existia mobilidade social e passar de uma classe social para outra era praticamente impossível. As condições de vida nos domínios feudais eram rudes e mesmo a nobreza não vivia luxuosamente.
Origem das cidades
Além dos castelos medievais, habitados pelos
nobres e aldeias rurais onde viviam os camponeses, existiram na Europa
Ocidental as cidades fortificadas ou burgos, cujos habitantes eram chamados de burgueses.
Os burgos cresceram e se desenvolveram com a
migração da população servil, que antes trabalhava na agricultura, e que passou
a viver do artesanato e pequeno comércio nas cidades. Isto ocorreu devido ao
esgotamento do solo dos feudos, cuja produção agrícola era destinada apenas ao
consumo local.
O crescimento das cidades ocorreu com as Cruzadas,
expedições militares cristãs que, dos séculos XI ao século XIII se dirigiam ao
Oriente, a pretexto de libertar a Terra Santa do domínio mulçumano. A intolerância dos novos senhores da
Síria-Palestina, havia tornado impossível o prosseguimento das peregrinações
dos cristãos aos Lugares Santos.
As guerras santas também envolviam questões
econômicas, e grandes trocas aconteciam. O contato entre as civilizações
cristãs ocidentais e a civilização oriental levou os europeus a conhecerem os
refinamentos do oriente, o que modificou a vida da sociedade feudal.
Com o luxo do oriente difundido nas cortes, os
castelos começaram a ser decorados com tapetes, móveis estofados, as roupas
tornam-se mais luxuosas com tecidos finos e joias. Até a alimentação se
tornou mais refinada com as especiarias e frutas orientais.
A grande procura por estes produtos importados
abriu novos mercados de consumo; muitos artesãos passaram a produzir imitações
destes produtos abrindo novas frentes de comércio e crescimento da indústria. As
cidades e vilas proliferaram e enriqueceram com muita rapidez. Em algumas
regiões, no século XIV, metade da população foi desviada das atividades
agrícolas para as comerciais e industriais.
Cidades italianas como Palermo, Florença e Milão prosperaram com a indústria, enquanto Gênova e Veneza negociavam com o Império Bizantino, favorecidas por sua posição estratégica, e se colocavam como pontos intermediários entre o Oriente e o Ocidente. Nas cidades italianas se concentravam o maior número de burgueses enriquecidos com o lucro proveniente do comércio.
Os ricos burgueses formavam a Alta Burguesia. Surge então o ideal moderno de riqueza e conforto material, caracterizando o sistema capitalista com a origem dos bancos criados pelos burgueses. A riqueza material foi o supremo objetivo dos burgueses. Trabalhavam intensamente, aumentando os negócios e os lucros.
Até então, achava-se que o homem só podia aspirar
a ser um herói (cavaleiro) ou um santo (clero). O castelo e o mosteiro
simbolizavam estes supremos ideais. Mas a cidade fez-se o símbolo de uma nova
concepção de vida, oposta às outras duas e, sobretudo tornou-se rival e inimiga
do castelo. O burguês desprezava o ócio do cavaleiro e mesmo do monge. Na Alta
Idade Média, por volta do século XII, a atividade essencial era a econômica.
Se no início as cidades estavam sujeitas ao poder absoluto do senhor feudal, que administrava a justiça e impunha toda espécie de tributos, multas e condenações, com o enriquecimento das cidades, os burgueses unidos em sólidas coligações, foram conquistando aos poucos, a sua independência. Os burgos tornaram-se cidades-livres.
Foi crescendo assim uma nova classe cada vez mais
rica e poderosa. Nos fins da Idade Média quase todas as cidades da Europa
Ocidental tinham-se libertado até certo ponto, do senhorio feudal. As cidades
mais prósperas, ao norte da Itália, na Provença no norte da França e no norte
da Alemanha, obtiveram absoluta independência.
A realeza e a burguesia: nasce a moda
A realeza tinha suas pretensões de retomar o poder
central e derrubar o poder dos senhores feudais. Estes dois objetivos uniram
burgueses e realeza. Com esta aproximação, os burgueses elevaram seu padrão de
vida ao mesmo patamar das cortes. Construíram residências suntuosas, decoradas
com muito luxo e passaram a imitar os costumes, os hábitos e modo de vestir dos
nobres, que apesar de usufruir do dinheiro dos burgueses, queriam manter seu
posto de alta classe. Para diferenciar-se, viam-se obrigados à inovação, modificando sua aparência e costumes quando estas tinham sido alcançadas pelas classes
inferiores.
Os burgueses, ansiosos pelo reconhecimento e conquista de prestígio, financiaram através de seus bancos, as grandes navegações na época dos descobrimentos, financiaram também as artes e a cultura no período do Renascimento. Em Florença, os Médici, poderosos banqueiros, financiam mosteiros e igrejas, patrocinaram cientistas e artistas. Em Milão, os Sforza também patrocinavam as artes. Os burgueses que patrocinavam as artes e cultura eram chamados de mecenas.
Mas, a burguesia, por mais que tivesse se aproximado da aristocracia, via que o poder continuava nas mãos do clero e dos nobres (primeiro e segundo Estado). Os burgueses ainda eram considerados o terceiro Estado. Eles eram a classe que dava suporte financeiro à nobreza e Igreja, que não pagavam impostos e somente por isto sua importância era reconhecida.
Somente com a Revolução Francesa em 1789, os
burgueses se opuseram definitivamente ao sistema e tomaram o poder, combatendo
a monarquia com o apoio popular. Conquistaram direitos políticos e decretaram o
fim dos privilégios dos dois Estados ainda feudais: Nobreza e Clero.
E assim, surgiu a moda. Dos burgueses
enriquecidos, que se aproximaram das cortes por desejo de reconhecimento e
prestígio, adotaram seus hábitos e costumes incluindo o modo de vestir. Mas
sempre encontraram barreiras por parte dos nobres que não aceitavam esta
igualdade das aparências e queriam manter seu status de nobreza, criando novas
formas de vestuário que seriam imitados pelos burgueses. A origem da moda,
portanto, está ligada às elites que encontram nas classes inferiores imitadores
e seguidores.
Pequena História da Civilização Ocidental - Idel Becker
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/feudalismo.htm
https://www.todamateria.com.br/feudalismo/
IMAGENS
Capa
https://en.wikipedia.org/wiki/File:Tizian_034.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_I_Sforza