A BRGUESIA E A ORIGEM DA MODA

26.5.25 |



Quando pesquisamos sobre a origem da moda, sempre encontramos como marco inicial o final da Idade Média e início da Idade Moderna, no Renascimento. Encontramos ainda que foram os burgueses os precursores do sistema de criação-cópia-desuso característico da moda. Mas quem eram os burgueses e por que a origem da moda está ligada a esta classe? Leia até o fim e veja como tudo começou. Vale a pena.


*conteúdo escrito por humano 


Idade Média e as grandes transformações sociais

 

A Idade Média compreende um período que vai do século V até o século XV caracterizado pela decadência do Império Romano, as invasões dos povos bárbaros, formação de novos reinos e o Império Bizantino.

 

No período que vai do século IX até fins do século XIII estabelece-se o regime feudal e a hierarquização social. Estes dois períodos são conhecidos como Alta Idade Média.

 

Os séculos XIV e século XV é a época do renascimento do comércio e das cidades, da formação da burguesia e a consolidação das monarquias. É a chamada Baixa Idade Média.

 

Este é o panorama geral da Idade Média. Como o nosso objetivo é entender a origem da moda, vamos resumir o período da Alta Idade Média, traçando um breve resumo do que foi o feudalismo, dada a importância que tem para a origem do sistema da moda.

 

O feudalismo e a hierarquia social
 

Desde que se desintegrou o Império Romano no Ocidente (Século V), a Europa Ocidental se organizou em reinos governados por dinastias locais. Era o fim da monarquia centralizada, cuja base era a autoridade máxima exercida pelo rei. Essas transformações políticas modificaram não só a economia, como também a estrutura da sociedade que agora se organiza nos feudos, iniciando um sistema de governo que se estenderia por muitos séculos adiante: o Feudalismo.


O feudo era uma grande propriedade rural - cujas terram eram cedidas pelo rei - que abrigava o castelo fortificado, as aldeias, as terras para cultivo, os pastos e os bosques. No feudalismo o poder se concentra nas mãos dos senhores feudais, que comandavam os soldados, cobravam impostos e administravam a justiça, ou seja, eram soberanos em suas terras.

 

Era uma forma de governo baseada na posse da terra, onde todos se submetiam a um suserano, o senhor feudal. Este podia ceder parte do seu feudo à outra pessoa que se tornaria seu vassalo, formando uma espécie de cadeia hierárquica.


<img src="classes-sociais-no-feudalismo.png" alt="Imagem de pintura retratando as classes sociais do feudalismo"/>

    Classes sociais no feudalismo.  Via | https://pixabay.com/photos/renaissance-painting-6961985/


A estrutura social no feudalismo era dividida em 3 classes:


  1. Nobres
  2. Clero
  3. Servis

 

1 Nobreza

No topo da nobreza estava o rei, que concentrava pouco poder político, pois este poder era dividido entre ele e os senhores feudais. No entanto, o monarca tinha a soberania junto aos senhores feudais, já que as terras eram cedidas pelo rei.

 

2. Clero

A Igreja se tornou a mais poderosa instituição feudal, pois foi proprietária de vastas extensões de terra, além de influenciar diretamente nas relações sociais. Os mosteiros medievais foram responsáveis pela conservação de manuscritos sobre literatura, filosofia e ciência, apoiavam os viajantes e acolhiam os doentes.

 

3. Servos

O trabalho estava fundamentado na servidão, com os camponeses presos a terra e subordinados a uma série de obrigações, como impostos e serviços. Por outro lado, os senhores feudais deveriam protegê-los em caso de ataques às aldeias que se organizavam em torno dos castelos.


Quase não existia mobilidade social e passar de uma classe social para outra era praticamente impossível. As condições de vida nos domínios feudais eram rudes e mesmo a nobreza não vivia luxuosamente.

 

Origem das cidades

 

Além dos castelos medievais, habitados pelos nobres e aldeias rurais onde viviam os camponeses, existiram na Europa Ocidental as cidades fortificadas ou burgos, cujos habitantes eram chamados de burgueses.

 

Os burgos cresceram e se desenvolveram com a migração da população servil, que antes trabalhava na agricultura, e que passou a viver do artesanato e pequeno comércio nas cidades. Isto ocorreu devido ao esgotamento do solo dos feudos, cuja produção agrícola era destinada apenas ao consumo local.

 

O crescimento das cidades ocorreu com as Cruzadas, expedições militares cristãs que, dos séculos XI ao século XIII se dirigiam ao Oriente, a pretexto de libertar a Terra Santa do domínio mulçumano.  A intolerância dos novos senhores da Síria-Palestina, havia tornado impossível o prosseguimento das peregrinações dos cristãos aos Lugares Santos.

 

As guerras santas também envolviam questões econômicas, e grandes trocas aconteciam. O contato entre as civilizações cristãs ocidentais e a civilização oriental levou os europeus a conhecerem os refinamentos do oriente, o que modificou a vida da sociedade feudal.

 

Com o luxo do oriente difundido nas cortes, os castelos começaram a ser decorados com tapetes, móveis estofados, as roupas tornam-se mais luxuosas com tecidos finos e joias.  Até a alimentação se tornou mais refinada com as especiarias e frutas orientais.

 

A grande procura por estes produtos importados abriu novos mercados de consumo; muitos artesãos passaram a produzir imitações destes produtos abrindo novas frentes de comércio e crescimento da indústria. As cidades e vilas proliferaram e enriqueceram com muita rapidez. Em algumas regiões, no século XIV, metade da população foi desviada das atividades agrícolas para as comerciais e industriais.

 

Cidades italianas como Palermo, Florença e Milão prosperaram com a indústria, enquanto Gênova e Veneza negociavam com o Império Bizantino, favorecidas por sua posição estratégica, e se colocavam como pontos intermediários entre o Oriente e o Ocidente. Nas cidades italianas se concentravam o maior número de burgueses enriquecidos com o lucro proveniente do comércio.

<img src="francisco-i-casa-de-sforza-milao.png" alt=Pintura com busto de Francisco I da Casa de Sofrza de Milão"/>
Francisco I. Burguês da Casa de Sforza
<img src="brasao-casa-de-sforza-milao.png" alt="Brasão da casa de Sforza de Milão"/>
Brasão da Casa Sforza - Milão

 

Os ricos burgueses formavam a Alta Burguesia. Surge então o ideal moderno de riqueza e conforto material, caracterizando o sistema capitalista com a origem dos bancos criados pelos burgueses. A riqueza material foi o supremo objetivo dos burgueses. Trabalhavam intensamente, aumentando os negócios e os lucros.

 

Até então, achava-se que o homem só podia aspirar a ser um herói (cavaleiro) ou um santo (clero). O castelo e o mosteiro simbolizavam estes supremos ideais. Mas a cidade fez-se o símbolo de uma nova concepção de vida, oposta às outras duas e, sobretudo tornou-se rival e inimiga do castelo. O burguês desprezava o ócio do cavaleiro e mesmo do monge. Na Alta Idade Média, por volta do século XII, a atividade essencial era a econômica.


Se no início as cidades estavam sujeitas ao poder absoluto do senhor feudal, que administrava a justiça e impunha toda espécie de tributos, multas e condenações, com o enriquecimento das cidades, os burgueses unidos em sólidas coligações, foram conquistando aos poucos, a sua independência. Os burgos tornaram-se cidades-livres.

 

Foi crescendo assim uma nova classe cada vez mais rica e poderosa. Nos fins da Idade Média quase todas as cidades da Europa Ocidental tinham-se libertado até certo ponto, do senhorio feudal. As cidades mais prósperas, ao norte da Itália, na Provença no norte da França e no norte da Alemanha, obtiveram absoluta independência.

 

A realeza e a burguesia: nasce a moda


A realeza tinha suas pretensões de retomar o poder central e derrubar o poder dos senhores feudais. Estes dois objetivos uniram burgueses e realeza. Com esta aproximação, os burgueses elevaram seu padrão de vida ao mesmo patamar das cortes. Construíram residências suntuosas, decoradas com muito luxo e passaram a imitar os costumes, os hábitos e modo de vestir dos nobres, que apesar de usufruir do dinheiro dos burgueses, queriam manter seu posto de alta classe. Para diferenciar-se, viam-se obrigados à inovação, modificando sua aparência e costumes quando estas tinham sido alcançadas pelas classes inferiores.

 

Os burgueses, ansiosos pelo reconhecimento e conquista de prestígio, financiaram através de seus bancos, as grandes navegações na época dos descobrimentos, financiaram também as artes e a cultura no período do Renascimento. Em Florença, os Médici, poderosos banqueiros, financiam mosteiros e igrejas, patrocinaram cientistas e artistas. Em Milão, os Sforza também patrocinavam as artes. Os burgueses que patrocinavam as artes e cultura eram chamados de mecenas.

<img src="lorenzo-de-medici.png" alt="Pintura com busto de Lorenzo de Médici"/>
Lorenzo de Médici
Brasão da Casa de Médici - Florença
 

Mas, a burguesia, por mais que tivesse se aproximado da aristocracia, via que o poder continuava nas mãos do clero e dos nobres (primeiro e segundo Estado). Os burgueses ainda eram considerados o terceiro Estado. Eles eram a classe que dava suporte financeiro à nobreza e Igreja, que não pagavam impostos e somente por isto sua importância era reconhecida.

 

Somente com a Revolução Francesa em 1789, os burgueses se opuseram definitivamente ao sistema e tomaram o poder, combatendo a monarquia com o apoio popular. Conquistaram direitos políticos e decretaram o fim dos privilégios dos dois Estados ainda feudais: Nobreza e Clero.

 

E assim, surgiu a moda. Dos burgueses enriquecidos, que se aproximaram das cortes por desejo de reconhecimento e prestígio, adotaram seus hábitos e costumes incluindo o modo de vestir. Mas sempre encontraram barreiras por parte dos nobres que não aceitavam esta igualdade das aparências e queriam manter seu status de nobreza, criando novas formas de vestuário que seriam imitados pelos burgueses. A origem da moda, portanto, está ligada às elites que encontram nas classes inferiores imitadores e seguidores.

 

E por hoje é isso.

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CRÉDITOS:

Pequena História da Civilização Ocidental -  Idel Becker

https://brasilescola.uol.com.br/historiag/feudalismo.htm

https://www.todamateria.com.br/feudalismo/

IMAGENS

Capa

https://en.wikipedia.org/wiki/File:Tizian_034.jpg

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Louren%C3%A7o_de_M%C3%A9dici

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_dos_M%C3%A9dici

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_de_Sforza

https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_I_Sforza

 



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